quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Ainda o Haiti


Uma das maravilhas da web é a possibilidade de interação e troca de ideias. Seja em blogs, Twitter ou qualquer outra rede social, a comunicação é sempre útil e produtiva.

Em abril de 2008, iniciei o Blog do Argônio com a intenção de trocar ideias, conhecer pessoas, aprender e poder dar uma humilde contribuição divulgando assuntos e temas pertinentes ao cotidiano. Nesses quase dois anos, fiz muito amigos e uma rede fiel de comentaristas e participantes, que eu chamo de Argonautas.

Um dos Argonautas sempre presente é o Guido Cavalcante. Ele fez um super comentário no post sobre o Haiti (clique aqui), que vira o post a seguir:

Bacana esse post, Leo.

Porém, me permita discordar quando diz "que não há quase nada que não tenha se falado sobre o assunto". Bem, há muitas coisas que podem nos fazer entender o tipo de "ajuda humanitária" dada ao Haiti. Em primeiro lugar, ninguém, isso sim, fala muito sobre a disputa entre as potências para obter alguma proeminência na região. Porque, por exemplo os EUA enviaram para lá a aguerrida divisão aerotransportada 82? Porque o Brasil insiste em demonstrar que é quem realmente manda no pedaço, conforme o general Floriano já reiteirou muitas vezes? Porque a reconstrução do Haiti virou problema para cúpulas internacionais, como vimos naquela que se encerrou ontem, com promessa de uma nova conferência em Março? Bem, eu não tenho respostas diretas, mas alguns fatos.

Em primeiro lugar, a Heritage Fundation nem esperou 24 horas depois do sismo, para contatar a administração Obama para propor a "sua" reforma da economia do Haiti. Outra: porque ninguém fala que o Haiti é rico em petróleo e em urânio? Mais uma que ninguém fala: o Haiti não produz nada (inclusive deixou de fabricar cimento), e tem que trazer tudo de fora.

Então pergunto, quais as companhias que vão levar a melhor fatia do bolo? Como demonstrou a Naomi Klein, os interesses de reconstrução do Haiti estão no foco do chamado "capitalismo do desastre", levando-a perguntar, inclusive, qual o papel de Bill Clinton nessa coisa toda, tendo ele falado em algo do tipo "plano Marshall para o Haiti"? Houve um encontro de Clinton com os executivos de uma grande companhia de telefones celulares (?) na Flórida, antes dele seguir para o Haiti. Ora, são essas empresas que estão determinando as prioridades que os haitianos vão ter que obedecer.

A chamada Shock Doctrine, que o capitalismo do desastre determina, em primeiro lugar sempre afirma que os povos atingidos são incapazes de uma gestão independente do seu país ou terrfitório. Já mostraram isso com as nações atingidas pelo tsunami, na Ásia. Ora, se os governos ou administrações locais são consideradas "incapazes", a primeira coisa é sempre chamar a polícia.
Bem, caro Leo, há muita coisa ainda para ser dita. O que acontece é que o jornalismo hoje, com honradas excessões, é um jornalismo atado, jornalismo de pool, onde todos realizam um único trabalho. Isso também serve para as imagens, conforme o exemplo abaixo:http://afdeautofoco.blogspot.com/ onde vc vai encontrar o texto Unilateralidade e dependência informativa. As agências de imagem e o Haiti

Eis o documento da Heritage Foundation lançado no dia seguinte ao terremoto: American Leadership Necessary to Assist Haiti After Devastating Earthquakeestá aqui http://www.heritage.org/Research/latinamerica/wm2754.cfmRepare no título como "American Leadership " vem antes de "Assist Haiti"

6 comentários:

  1. Problemas políticos sempre vão haver, mas o que pode fazer com que a natureza se revolte cada dia mais é a própria ação do homem que a polui a degrada. Abraços

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  2. Cris, vc está certíssima na sua ponderação. No Haiti antes do terremoto, cerca de 98% da cobertura vegetal havia desaparecido. Os haitianos precisam desesperadamente de lenha pra fazer fogo. Tem que desmatar. Em 2003 um furacão varreu Santo Domingo e Haiti: 3000 mortos no Haiti e poucas dezenas de mortes em Sto Domingo - sem a cobertura vegetal a inundação virou enxurrada no Haiti. Bem, o resultado do desmatamento é que a terra no Haiti ficou improdutiva. Então o homem do campo migra pras cidades. Nas cidades tem que construir a sua casa e como o cimento vem de fora e custa muito caro, ele usa mais areia do que cimento na mistura. Ai, quando veio o terremoto tudo ruiu. Em 1989 (se não me engano) a California sofreu um abalo da mesma intensidade: só 63 americanos morreram. Enfim, a natureza tem a sua parte na destruição mas, como vc diz, o home tb faz o resto

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  3. Interessante o comentário do Guido...

    Mas pensando, sera que dá para separa a ajuda da vontade de aproveita a situação?

    Pois todo ato encerra tanto o bem, como o mal, pois ao solucionarmos os problemas dos outros, acabamos tirando a possibilidade do dono evoluir (mas como podemos não solucionar o problema se há tanta dor humana envolvida?)...

    Fiquem com Deus, menino Leo e menino Guido.
    Um abraço.

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  4. Leo, adorei página que vc fez com o texto. A ilustração ficou lindíssima e me sinto verdadeiramente honrado com isso tudo. Como ontem fiz aniversário, bem, ficou sendo o meu presentão :-)

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  5. Eu li o comentário do Guido aqui no Argônio e elogiei naquele mesmo dia.
    Parabéns Léo e Guido!

    Abs!

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  6. Guido,

    O presente quem deu foi você, com seus comentários super embasados.
    Esperamos vê-lo sempre por aqui!
    Abraços e feliz aniversário atrasado!

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