quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Tragédia social x Fenômenos da natureza



Demorei um pouco para abordar o assunto Haiti. Sinceramente, fiquei sem vontade de falar deste assunto, pelo excesso da cobertura que se tem. Não há quase nada que não tenha se falado sobre o assunto.
A situação é lamentável. Milhões de desabrigados, milhares de mortos e feridos. Violência e disputa por comida e água, ou seja, o que há de mais terrível para um ser humano.

Mas o que poucos falam é a situação de miséria e abandono que os haitianos já passavam antes da tragédia natural. Anterior às mazelas impostas pela natureza, o país mais pobre das Américas já sofria com uma tragédia mais silenciosa, menos retratada e mais dura: o caos social.

Sendo o primeiro país a alcançar a independência nas Américas, o Haiti vive em uma eterna disputa por poder. Mais de 30 golpes de estados, abismo social, exploração desenfreada e a total falta de infraestrutura que foi exposta ao mundo do modo mais terrível.
Agore pare para pensar e tente imaginar os países até mais pobres do que o Haiti, em especial, aos países africanos que não tiveram suas feridas expostas desta maneira.

Acho muito bacana e necessária a mobilização em prol do Haiti. Mas não seria a hora dos países ricos e "desenvolvidos" darem mais atenção ao que acontece ao redor?

10 comentários:

  1. Bacana esse post, Leo. Porém, me permita discordar quando diz "que não há quase nada que não tenha se falado sobre o assunto". Bem, há muitas coisas que podem nos fazer entender o tipo de "ajuda humanitária" dada ao Haiti. Em primeiro lugar, ninguém, isso sim, fala muito sobre a disputa entre as potências para obter alguma proeminência na região. Porque, por exemplo os EUA enviaram para lá a aguerrida divisão aerotransportada 82? Porque o Brasil insiste em demonstrar que é quem realmente manda no pedaço, conforme o general Floriano já reiteirou muitas vezes? Porque a reconstrução do Haiti virou problema para cúpulas internacionais, como vimos naquela que se encerrou ontem, com promessa de uma nova conferência em Março? Bem, eu não tenho respostas diretas, mas alguns fatos. Em primeiro lugar, a Heritage Fundation nem esperou 24 horas depois do sismo, para contatar a administração Obama para propor a "sua" reforma da economia do Haiti. Outra: porque ninguém fala que o Haiti é rico em petróleo e em urânio? Mais uma que ninguém fala: o Haiti não produz nada (inclusive deixou de fabricar cimento), e tem que trazer tudo de fora. Então pergunto, quais as companhias que vão levar a melhor fatia do bolo? Como demonstrou a Naomi Klein, os interesses de reconstrução do Haiti estão no foco do chamado "capitalismo do desastre", levando-a perguntar, inclusive, qual o papel de Bill Clinton nessa coisa toda, tendo ele falado em algo do tipo "plano Marshall para o Haiti"? Houve um encontro de Clinton com os executivos de uma grande companhia de telefones celulares (?) na Flórida, antes dele seguir para o Haiti. Ora, são essas empresas que estão determinando as prioridades que os haitianos vão ter que obedecer. A chamada Shock Doctrine, que o capitalismo do desastre determina, em primeiro lugar sempre afirma que os povos atingidos são incapazes de uma gestão independente do seu país ou terrfitório. Já mostraram isso com as nações atingidas pelo tsunami, na Ásia. Ora, se os governos ou administrações locais são consideradas "incapazes", a primeira coisa é sempre chamar a polícia. Bem, caro Leo, há muita coisa ainda para ser dita. O que acontece é que o jornalismo hoje, com honradas excessões, é um jornalismo atado, jornalismo de pool, onde todos realizam um único trabalho. Isso também serve para as imagens, conforme o exemplo abaixo:

    http://afdeautofoco.blogspot.com/ onde vc vai encontrar o texto Unilateralidade e dependência informativa. As agências de imagem e o Haiti

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  2. Brother não é fácil falar em tragédias, meche com nossos sentimentos, espero que o mundo se solidarize com a situação do Haiti e ajude. O pior é saber que teremos inúmeras catástrofes natuais de todos os tipos que levaram muita gente pro além, nada a ver com 2012 mas sim uma resposta do planeta a sua degradação.

    Abraço
    Jeferson

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  3. Eis o documento da Heritage Foundation lançado no dia seguinte ao terremoto: American Leadership Necessary to Assist Haiti After Devastating Earthquake

    está aqui http://www.heritage.org/Research/latinamerica/wm2754.cfm

    Repare no título como "American Leadership " vem antes de "Assist Haiti"

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  4. Nossa, chocante o comentário do amigo Guido. O post também é excelente. Eu também estou um pouco cansada de toda miséria do mundo que tem se falado. E, se for analisar bem, a miséria está lá há muito tempo (como está em tantos outros lugares no mundo, inclusive no Brasil).

    O grande problema é a velha disputa por dinheiro e poder a qualquer custo. Mas ainda não conseguiram inventar um sistema econômico "menos pior" que o capitalismo.

    Todo mundo já sabe o que fazer, resta decidir quem vai pagar a conta.

    Lamentável

    beijo rouge

    Dani

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  5. Nossa...Como sou feliz em ter comentaristas desse gabarito aqui no Argônio.

    Guido, o seu comentário virará um post. Pode ser?

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  6. Olá!

    O grande problema não é apenas a tragédia,mas a omissão em torno dela.O caos no Haiti já existia,mas não era 'vendável'.
    O tom da tragédia faz com que os corações se apiedem.
    Uma das coisas mais desprezíveis que vi,foi a casa do presidente abandonada,representando um país abandonado.
    Contudo aqui no Brasil,as coisas não são diferentes: "O Haiti é aqui!"

    Abs!

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  7. É bem verdade que as pessoas fazem vista grossa em relação a situação da miséria mundial...É algo coletivo, por ser uma restrição individual... O problema maior, são aqueles que estão apenas mobilizados ao metro quadrado que os cercam.. Não há visão de mundo, da imensidao que há fora da cúpula de vidro a qual se restringiram...Pq isso? Medo? Auto-proteção...Ou uma depressão e comodismo que como doença já corroi mtos inconscientemente? Enfimmm...sei lá, tudo mto complexo, qdo tentamos falar sobre o que passa na mente humana...

    O buraco é mais embaixo...

    Adorei o texto Leo...é bem isso mesmo

    Abraço

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  8. Acho que seria hora, sim, Leo. Os países ricos, ensimesmados, de soberba monstruosa pouco estão ligando para o que acontece ao redor. É como se eles fossem seres supremos, acima do bem e do mal.
    Muito legal o seu post!
    Beijos!
    Boa quinta pra ti!

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  9. Caro Leo, me sinto horado por seu convite para transformar o comentário em postagem. Creio que fazer parte da sua relação de leitores/comentadores já suficiente para a brevidade de minhas sentenças. E parabéns mais uma vezs pelo post. Abraço forte

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  10. Cara, infelizmente os paises ricos só dão importância ao que se refere as áreas de dependência dele (um suposto parceiro numa região hostil, um pais que fornece matéria prima, ou endividado com o pais rico e assim vai), até nós mesmo pensamos nisto gora por ser a noticia da vez, pois ainda temos tantos lugares com necessidade e com menos destaque do que o Haiti.

    Fique com Deus, menino Leo.
    Um abraço.

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