Nos últimos tempos vivo com a sensação de que ler um livro ou um artigo extenso costumava ser muito fácil. Ao contrário de hoje em dia, antes eu ermanecia imerso por muitas horas seguidas na leitura de longos trechos de prosa. Agora, a minha concentração rapidamente se desfaz e deriva após duas ou três páginas. Me sinto como se fosse preciso literalmente arrastar o meu cérebro de volta ao texto. A leitura profunda que costumava acontecer naturalmente, agora tornou-se uma luta.
Desconfio do que está acontecendo: é a WEB!! A rede se tornou para mim – e creio que para a maior parte da humanidade – um meio universal por onde a maior parte da informação é disseminada e coletada – ou seja, o meu cérebro deixou há muito de ser o meio natural de processar informação, para se tornar um molde onde a informação e o conhecimento deixaram de ser o resultado da concentração. Agora a minha mente, como acontece na rede, deixou de funcionar em profundidade – eu prefiro surfar na superfície das coisas. E tudo rapidamente.
Isto é, quando mais utilizo a rede, mais tenho que lutar para me manter concentrado por longos textos. Será isso o prenúncio do fim dos livros como os vemos há 600 anos, desde que o tipo móvel foi inventado? O tipo móvel produziu o livro, que demanda uma forma própria de leitura, geralmente tendo o leitor o objeto entre suas mãos, virando as páginas pacientemente por longos períodos de tempo, enquanto a obra vai sendo absorvida vagarosamente. Agora, na rede, a coisa mudou: faço uma varredura sobre as passagens mais curtas do texto, subsidiado por várias fontes online e links, de modo que mesmo um post de blog muito longo torna-se maçante e dá trabalho demais para absorver.
Ou seja , a partir de uma fonte eu salto para outra e raramente retorno à página inicial que já tinha visitado. Normalmente não leio mais do que uma ou duas “páginas” (ou o equivalente a isso na web) de um artigo ou livro antes de "pular" para um outro site.
É claro que eu não estou mais lendo on-line no sentido tradicional da palavra. Na verdade, acho que essa é uma nova forma de "ler", como "poder navegar" horizontalmente através de títulos, resumos e conteúdos. Eu me tornei incapaz da leitura online no sentido tradicional.
Graças à ubiqüidade de texto na internet, para não mencionar a popularidade de mensagens de texto em celulares, podemos muito bem estar lendo mais hoje do que na década de 1970 ou de 1980, quando a TV definia de escolha. Mas agora é um tipo diferente de leitura, e por trás dele acho que está uma forma diferente de pensar, talvez até um novo sentido do “eu”. "Nós não somos apenas o que lemos", disse Maryanne Wolf, uma psicóloga interessada em problemas da leitura. "Somos como lemos." Bem, desconfio de que o estilo de leitura promovido pela Web, é um estilo que coloca a "eficácia" e "iminência" acima de tudo. Mas esse estilo pode também estar enfraquecendo a nossa capacidade para o tipo de leitura profunda que surgiu com uma tecnologia mais antiga, a imprensa.
Como a leitura não é uma habilidade instintiva dos humanos como é a fala, temos que aprender a traduzir os símbolos que vemos para a língua que compreendemos. E os meios de comunicação social ou de outras tecnologias que utilizamos para aprender e praticar a leitura desempenham um papel importante na formação do circuitos neurais dentro de nosso cérebro. Assim podemos deduzir que os tecidos neurais modificados pelo uso da Net serão diferentes dos tecidos formados com a leitura de livros e outras obras impressas.
A influência da Net não termina no limite da tela de um computador. Tanto é assim que o TheNew York Times dedica agora a segunda e terceira páginas para resumos dos artigos, para que os "atalhos" deem aos leitores um "gostinho" das notícias do dia, poupando o “saco” de ler os textos completos.
Bem, isso já está ficando muito longo, e eu temo que você pare de ler :-)
Nos últimos tempos vivo com a sensação de que ler um livro ou um artigo extenso costumava ser muito fácil. Ao contrário de hoje em dia, antes eu ermanecia imerso por muitas horas seguidas na leitura de longos trechos de prosa. Agora, a minha concentração rapidamente se desfaz e deriva após duas ou três páginas. Me sinto como se fosse preciso literalmente arrastar o meu cérebro de volta ao texto. A leitura profunda que costumava acontecer naturalmente, agora tornou-se uma luta.
ResponderExcluirDesconfio do que está acontecendo: é a WEB!! A rede se tornou para mim – e creio que para a maior parte da humanidade – um meio universal por onde a maior parte da informação é disseminada e coletada – ou seja, o meu cérebro deixou há muito de ser o meio natural de processar informação, para se tornar um molde onde a informação e o conhecimento deixaram de ser o resultado da concentração. Agora a minha mente, como acontece na rede, deixou de funcionar em profundidade – eu prefiro surfar na superfície das coisas. E tudo rapidamente.
Isto é, quando mais utilizo a rede, mais tenho que lutar para me manter concentrado por longos textos. Será isso o prenúncio do fim dos livros como os vemos há 600 anos, desde que o tipo móvel foi inventado? O tipo móvel produziu o livro, que demanda uma forma própria de leitura, geralmente tendo o leitor o objeto entre suas mãos, virando as páginas pacientemente por longos períodos de tempo, enquanto a obra vai sendo absorvida vagarosamente. Agora, na rede, a coisa mudou: faço uma varredura sobre as passagens mais curtas do texto, subsidiado por várias fontes online e links, de modo que mesmo um post de blog muito longo torna-se maçante e dá trabalho demais para absorver.
Ou seja , a partir de uma fonte eu salto para outra e raramente retorno à página inicial que já tinha visitado. Normalmente não leio mais do que uma ou duas “páginas” (ou o equivalente a isso na web) de um artigo ou livro antes de "pular" para um outro site.
É claro que eu não estou mais lendo on-line no sentido tradicional da palavra. Na verdade, acho que essa é uma nova forma de "ler", como "poder navegar" horizontalmente através de títulos, resumos e conteúdos. Eu me tornei incapaz da leitura online no sentido tradicional.
Graças à ubiqüidade de texto na internet, para não mencionar a popularidade de mensagens de texto em celulares, podemos muito bem estar lendo mais hoje do que na década de 1970 ou de 1980, quando a TV definia de escolha. Mas agora é um tipo diferente de leitura, e por trás dele acho que está uma forma diferente de pensar, talvez até um novo sentido do “eu”. "Nós não somos apenas o que lemos", disse Maryanne Wolf, uma psicóloga interessada em problemas da leitura. "Somos como lemos." Bem, desconfio de que o estilo de leitura promovido pela Web, é um estilo que coloca a "eficácia" e "iminência" acima de tudo. Mas esse estilo pode também estar enfraquecendo a nossa capacidade para o tipo de leitura profunda que surgiu com uma tecnologia mais antiga, a imprensa.
Como a leitura não é uma habilidade instintiva dos humanos como é a fala, temos que aprender a traduzir os símbolos que vemos para a língua que compreendemos. E os meios de comunicação social ou de outras tecnologias que utilizamos para aprender e praticar a leitura desempenham um papel importante na formação do circuitos neurais dentro de nosso cérebro. Assim podemos deduzir que os tecidos neurais modificados pelo uso da Net serão diferentes dos tecidos formados com a leitura de livros e outras obras impressas.
A influência da Net não termina no limite da tela de um computador. Tanto é assim que o TheNew York Times dedica agora a segunda e terceira páginas para resumos dos artigos, para que os "atalhos" deem aos leitores um "gostinho" das notícias do dia, poupando o “saco” de ler os textos completos.
Bem, isso já está ficando muito longo, e eu temo que você pare de ler :-)