Caros Argonautas,
A partir de hoje, mais uma colunista estreia aqui no Blog do Argônio.
A Grazi Maciel, gaúcha de Porto Alegre, vem para dar mais brilho a este espaço. Divertida, inteligente e sempre criativa, ela pode ser seguida no Twitter pelo codinome @grazicanaam.
O que me ficou de meu pai?
Ficou meu jeito de colocar as mãos na cintura quando tenho que resolver algo rápido, como trocar um móvel de lugar, ou consertar a geladeira. Ficou a salada, não havia refeição sem ela. Ficou meu horror ao cigarro e a mentira, e minha pouca resistência à bebida. Ficou meu gosto pelos livros, mas confesso que no início preferia os gibis. Ficou o gosto por escrever, ah esse eu tenho dele. Ele foi poeta quando moço, devorava sua sede cultura, se sentia mais realizado lendo um livro. Talvez ali buscasse tudo que sonhara ser.
Eu não sou médica, não sou advogada, nem professora. Sou uma pequena célula, perto do que ele foi. Pois ele sempre foi muita coisa. Ele foi justo e injusto, foi amoroso e rude, foi o pai mais babão e o mais rigoroso. Ensinou-me a andar de bicicleta, me viu cair, me viu levantar e em nenhum momento me julgou.
Ele se foi cedo demais. E agora o que ficou? O conselho que não posso pedir. As brigas que a gente não vai ter. Nas brigas das quais a gente iria se unir contra alguém, sei lá quando eu teria razão ou minha irmã. Ou ele sempre com seu olhar afetuoso sobre minha mãe. Ele a amava tanto. E se pareciam tanto de tanto que eram diferentes.
O que ficou dele? Nenhuma imagem gravada. Uma fita cassete que talvez não rode mais. Algumas fotos. Os poemas que escreveu quando moço. É ruim ter que ficar com aquelas imagens mais recentes: magrinho cabelo ralinho, mas completamente culto, ainda o mais sábio dos homens, que mesmo nas tardes de visita no Hospital, ele sabia mais notícias do que qualquer um.
Só não gosto de falar nos últimos três meses desde a doença dele. Tudo o que viveu, tão dependente, tão frágil, indefeso, era o oposto de quem ele foi quando sadio. Meu pai ria, brincava, gritava. Meu pai era cheio de vida e virou um bebê grande, de quem a família cuidou com todo carinho e respeito. Respeito, porque mesmo em cima de uma cama, mesmo com muita dor, ele ainda era o pai, o marido, o dono da casa. De voz forte, alta, tomando café pequeno e dando sustos na gente. Menino grande meu pai. Menino grande, que morreu de repente, sem envelhecer. Menino grande meu pai, de quem lembro o tempo todo, parece que vejo ainda com as bolinhas de gude na mão me ensinando a jogar com aquela paciência infinita. Menino grande, de coração grande, capaz de muito amor, muita tristeza, muita alegria muito segredo. Menino grande de quem eu lembro o tempo todo, e por quem eu chorei pouco, se compara o choro à saudade entalada na garganta.
Grazi Maciel
Uma linda postagem...daquelas que a gente devora cada palavra...
ResponderExcluirsó pelo texto se percebe o homem que ele foi.
Bjs
Bom texto, Grazi.
ResponderExcluirTem realmente muita emoção nele.
Parabéns!
Nossa, começou bem hein? Lindo texto - emocionado e emocionante. É triste,mas a vida é assim. Das pessoas só sobram as lembranças que elas deixam em quem as ama.
ResponderExcluirSeja bem vinda
beijo rouge
Dani
OLá,Grazy1
ResponderExcluirSeja bem vida!
Emocionou-me demais da conta!
Lembrei-me da minha relação com meu pai e de como eu o perdi.
Sensível e belo!
Parabéns!
Carol Sakurá(@carolbless)
http://lepoeteenfleur.blogspot.com
Boa Sorte nesse seu novo espaço. Texto lindo!!
ResponderExcluirAbraços
esse blog era muito simpático... agora está ficando genial. eia!!
ResponderExcluirBem vinda aqui, mas penso que mesmo sendo um momento triste da tua vida, penso que o teu pai tenha te dado uma dadiva ao fim, pois literalmente ele afirmou que mesmo tendo tanto conhecimento, ele não seria nada sem a família.
ResponderExcluirFique com Deus, menina Grazi Maciel.
Um abraço.
Muito bem-vinda, Grazi! Aqui é um belo espaço.
ResponderExcluirOlha que coincidência, li (e fui às lágrimas) exatamente no dia do aniversário do meu pai.
ResponderExcluirA coincidência é que ele sofre de mal de Parkinson, já foi saudável e está indo embora aos pouquinhos.
E a cada dia que passa eu tento aproveitar da companhia enquanto ele tá aqui conosco.
Querido Dudo,
ResponderExcluirFeliz Aniversário pro teu pai, e Parabéns por você ser este filho Maravilhoso.
Na verdade como o Leo colocou lá em cima, somos "Heranças" e este é o nosso papel aqui.
Por tanto, aproveite esse teu Menino Grande ai, e diga todos os dias o quanto o ama, é disso que somos e pra isso que existimos somente pelo AMOR !
Beijo!
Obrigada pela visita!
Linda estréia Grazi.
ResponderExcluirEm cada palavra, perfeição. Dá pra sentir quando as coisas sao escritas com amor. Fica palpável.
Parabéns pelo talento.
Ainda bem que tanta coisa ficou. Tem coisas que NUNCA morrem. A gente só entende que um parte fica conosco quando uma grande parte vai embora.
ResponderExcluirEstamos juntas, amiga!
=*
ah, grazi, sempre pegando a gente de calça curta. lindo texto.
ResponderExcluirGrazi,
ResponderExcluirLindo texto menina, listas palavras. Emocionei.Parabéns.
Abraços
Lindo texto!
ResponderExcluirAcabei de escrever sobre meu pai no meu blog tb...tive receio mas expus...me identifiquei mto com teu texto. Parabéns!
Roberta